Por que choramos de felicidade? A ciência por trás das lágrimas emocionais

Pesquisas indicam que derramar lágrimas é um mecanismo de autorregulação essencial para a saúde mental e física

Por Silvia Melo em parceria com Anna Luísa Barbosa (Médica - CRMGO 33271)
10/04/2025 07:31 / Atualizado em 25/04/2025 09:25

Chorar de alegria é uma resposta natural a emoções intensas como felicidade, gratidão ou alívio. Embora o choro esteja geralmente ligado à tristeza, eventos positivos — como reencontros, conquistas ou pedidos de casamento — também podem nos levar às lágrimas. 

Lágrimas são a característica definidora do choro. Nossos olhos produzem continuamente lágrimas basais, que protegem a superfície do olho mantendo-a úmida e removendo partículas estranhas. Essas lágrimas basais normalmente drenam para o nariz sem serem notadas. O choro emocional, no entanto, envolve uma produção aumentada de lágrimas — um fenômeno anteriormente considerado exclusivamente humano.

No entanto, um estudo recente desafia essa suposição, mostrando que os cães produzem mais lágrimas quando se reencontram com seus donos do que quando encontram outros indivíduos familiares. Além disso, o choro inclui mais do que apenas lágrimas; muitas vezes envolve sons de soluços e respiração irregular, comportamentos também observados em alguns animais. No entanto, o choro continua sendo uma experiência humana universal, levando os pesquisadores a perguntar: Por que choramos de felicidade?

Quando a alegria leva ao choro

O choro de alegria é desencadeado quando somos emocionalmente sobrecarregados. Nessa resposta, o sistema nervoso parassimpático entra em ação para restaurar o equilíbrio fisiológico do corpo, reduzindo os efeitos de estresse causados por picos emocionais. Estudos mostram que as lágrimas emocionais ajudam a baixar a frequência cardíaca, a pressão arterial e os níveis de cortisol, o hormônio do estresse.

Chorar de felicidade, portanto, é mais do que emoção, é um mecanismo de autorregulação essencial
Chorar de felicidade, portanto, é mais do que emoção, é um mecanismo de autorregulação essencial - Marc Dufresne/istock

A região do cérebro responsável por expressões emocionais como o choro está localizada no tronco cerebral e é chamada de substância cinzenta periaquedutal (PAG). As células na PAG recebem informações do sistema límbico, nosso centro de processamento emocional, e então executam um programa motor adequado para expressar emoções, como risos ou choro de alegria.

Quando choramos de felicidade, as lágrimas são produzidas pelas glândulas lacrimais, localizadas perto das órbitas oculares. Essas glândulas são controladas por terminações nervosas que estimulam ou inibem sua atividade. Os nervos que regulam a produção de lágrimas pertencem aos sistemas nervosos simpático e parassimpático.

No entanto, é especificamente o sistema parassimpático, associado ao relaxamento, que estimula a produção de lágrimas, enquanto o sistema simpático a suprime. Em outras palavras, a produção de lágrimas é uma resposta parassimpática que neutraliza a excitação aumentada previamente induzida pela atividade simpática.

Lágrimas que trazem alívio

Uma substância-chave encontrada em altas concentrações nas lágrimas é o cortisol, um hormônio associado ao estresse. Isso levou os pesquisadores a levantar a hipótese de que o choro remove o excesso de cortisol do corpo.

Para testar isso, um estudo fez com que mulheres assistissem a um filme emocionante, criado para fazê-las chorar. Os níveis de cortisol no sangue foram medidos antes e depois da triagem. Os resultados mostraram que as mulheres que choraram durante o filme tiveram níveis mais baixos de cortisol depois, em comparação com aquelas que não choraram, sugerindo que o choro pode ajudar a reduzir o estresse e restaurar o equilíbrio fisiológico.