Tricofagia: bola de cabelo é retirada do estômago de adolescente
Jovem foi diagnosticada com tricotilomania e tricofagia, conhecida popularmente de "Síndrome de Rapunzel"; entenda o que são
Uma adolescente de 17 anos precisou ser operada às pressas no Reino Unido para retirar uma bola de cabelo de 48 centímetros de comprimento do estômago. O caso foi publicado na revista BMJ Case Reports, no dia 9 de fevereiro, como um distúrbio de tricofagia.
A menina foi levada ao hospital depois de desmaiar duas vezes e machucar o rosto e o couro cabeludo. Os médicos queriam descartar um ferimento na cabeça, mas durante um exame, eles também notaram uma massa na parte superior do abdômen da paciente.
A adolescente confessou que comia compulsivamente o próprio cabelo e relatou que sentia dor abdominal intermitente há cinco meses, que piorou nas últimas duas semanas.
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Os médicos, então, realizaram uma tomografia computadorizada, que revelou um “estômago grosseiramente distendido” com uma grande massa interna e uma laceração na parede do estômago.
Tricofagia e tricotilomania
A tricofagia, popularmente conhecida como “Síndrome de Rapunzel”, se caracteriza por essa mania de comer cabelo. A condição geralmente é um desdobramento da tricotilomania, uma doença comportamental crônica que se resume a impulsos incontroláveis e recorrentes de arrancar o próprio cabelo ou pelos de diferentes regiões do corpo, como barba, cílios e pelos pubianos.
Geralmente, a ação resulta no aparecimento de uma falha capilar perceptível na região do corpo que sofre a agressão.
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), a tricotilomania deve ser considerada um distúrbio compulsivo e requer os seguintes critérios de diagnóstico: 1) tração recorrente dos fios, causando uma alopecia perceptível; 2) aumento da sensação de tensão imediatamente antes da ação de puxar os cabelos ou ao tentar resistir ao impulso; 3) prazer, gratificação ou alívio quando o cabelo é puxado e consequentemente extraído; e 4) a doença mental não deve ser considerada a única explicação para a existência dessa doença.
De acordo com o professor de Dermatologia José Marcos Pereira, da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, geralmente a agressão ao cabelo ocorre quando o paciente está distraído. “Assistindo televisão, estudando, falando ao telefone etc., e é intensificada quando associada a uma situação estressante, por exemplo, ao se preparar para um exame”, explica em um artigo publicado no Anais Brasileiros de Dermatologia.
Segundo o médico, a extração do cabelo nem sempre é imediata. “Frequentemente, o paciente passa horas torcendo os cabelos com os dedos ou manipulando-os de alguma forma e só mais tarde realmente os extrai. Isso ocasionalmente é feito com uma pinça”, afirma.
Estudos clínicos sugerem que, aproximadamente 40% dos pacientes com a mania de arrancar os cabelos ou pelos desenvolvem o hábito de engolir os fios, que acabam acumulados no estômago que não consegue digeri-los.
A bola de cabelo ou de pelo que vai se formando bloqueia o trânsito gastrointestinal e com o tempo pode levar a pessoa a óbito.
As mulheres são muito mais afetadas do que os homens. São cerca de 10 mulheres para cada homem com o problema. A idade média de início costuma ser aos 12 anos.
As duas condições estão frequentemente associadas à depressão e à ansiedade, principalmente quando aparecem após a adolescência. Por isso, o tratamento muitas vezes precisa envolver o psiquiatra.