Debate na Record: Candidatos criticam Bolsonaro e clima de ódio

O encontro entre os presidenciáveis na Record foi o penúltimo antes do primeiro turno das eleições

Debate na Record reuniu candidatos à presidência
Créditos: Reprodução/RecordTV
Debate na Record reuniu candidatos à presidência

O penúltimo debate dos presidenciáveis antes das eleições do primeiro turno que aconteceu na Record TV na noite do último domingo, 30, foi marcado por fortes críticas ao candidato Jair Bolsonaro (PSL-RJ) e ao clima de ódio que tem permeado discussões por vezes acaloradas entre os eleitores nas redes sociais e fora delas, além da polarização Bolsonaro x PT.

Participaram do debate Fernando Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), Henrique Meirelles (MDB), Alvaro Dias (Podemos), Guilherme Boulos (PSOL) e Cabo Daciolo (Patriota). O candidato do PSL, Jair Bolsonaro, não compareceu por questões de saúde. Apesar de já ter tido alta do hospital, o ex-deputado segue recomendação médicas para permanecer em repouso.

Ao longo de mais de duas horas de debate em que os candidatos se enfrentaram diretamente, sem perguntas da plateia ou de jornalistas da emissora, os presidenciáveis abordaram questões importantes como infraestrutura, economia, violência contra mulher e LGBTs, reformas política, tributária, trabalhista e da previdência, além de caminhos para retomar a confiança do brasileiro.

Quinta colocada nas pesquisas de intenções de votos de acordo com Ibope e Datafolha, Marina Silva se pôs como a “esperança” para a unificação do Brasil e uma alternativa à polarização entre radicalismo de esquerda e de direita.

Ciro Gomes, que aparece em terceiro nas pesquisas, ressaltou sua biografia, sua longa carreira na política como ex-ministro da Fazenda e ex-governador do Ceará. Ainda, o pedetista pediu o voto dos brasileiros indecisos para conseguir chegar ao segundo turno.

Fernando Haddad foi incisivo em se opor às reformas trabalhistas e da previdência e disse que, se eleito, revogará a PEC do teto de gastos aprovada pelo governo de Michel Temer (MDB), que congela investimentos em saúde e educação por 20 anos.

Geraldo Alckmin, por sua vez, defendeu enfaticamente as reformas, citou-as como imprescindíveis para a retomada do crescimento do país. Ainda, o tucano, que se colocou como candidato de centro, alheio aos radicalismos de esquerda e direita, negou que a PEC do teto de gastos interfira no desenvolvimento da saúde no Brasil e prometeu “colocar para funcionar 30 milhões de leitos”.

Personagem emblemático e caricato dos debates, Cabo Daciolo voltou a ser um dos assuntos mais comentado nas redes sociais. O presidenciável teceu duras críticas aos dois candidatos mais bem posicionados – Haddad e Bolsonaro – ressaltou que o ex-presidente Lula é um “líder” e alegou estar sendo vítima de um “boicote” que o impedirá de participar do debate da TV Globo que acontecerá na próxima quinta-feira, 4.

Alvaro Dias manteve seu discurso crítico à corrupção, reforçou sua ojeriza ao PT e defendeu a reforma política, com uma diminuição no número de políticos em todas as esferas – federal, estadual e municipal -, além do fim de privilégios.

Guilherme Boulos voltou a tecer críticas a Michel Temer, a quem chamou de “golpista”, criticou as reformas, a PEC do teto de gastos e ressaltou a importância de incluir as minorias sociais nos planos de governo. O psolista foi o único presidenciável que abordou a violência contra LGBTs, que só em 2017 ceifou mais de 400 vidas, de acordo com dados do Grupo Gay da Bahia.

Henrique Meirelles afirmou que o Brasil precisa reconquistar a confiança dos investidores internacionais para que possa voltar a crescer e gerar empregos.

Única mulher a participar dos debates, Marina Silva foi alçada pelos demais candidatos como à alternativa crítica a Jair Bolsonaro e, em pelo menos duas ocasiões, dois presidenciáveis questionaram-na diretamente sobre falas do postulante ao Planalto pelo PSL.

Sem se esquivar, a candidata da Rede disse que Bolsonaro “amarelou” e que, ao prever uma possível derrota nas urnas, o ex-deputado faz discursos autoritários, que aludem à ditadura – tomar o poder pelo uso força sem o respaldo legal da maioria da população -, citando como exemplo uma fala do mesmo em entrevista à Band na última sexta-feira, 28, quando disse que “não reconheceria outro resultado que não sua vitória” ao final da corrida presidencial.

“Jair Bolsonaro desrespeita a Constituição e a democracia. Para mim, as palavras dele só podem ser uma coisa: ele fala muito grosso, mas tem momentos que ele amarela. Ele já está com medo da derrota”, afirmou Marina Silva.

Por falar em mulheres, elas se tornaram parte importante do debate. Praticamente todos os candidatos saudaram os movimentos que foram às ruas no sábado, 29, em todo o país contra Jair Bolsonaro.

Ainda em relação à candidatura Bolsonaro-Mourão, os presidenciáveis criticaram as falas do vice de Jair Bolsonaro, general Hamilton Mourão que, recentemente, criticou o décimo terceiro salário e férias, considerado por ele como sendo onerosas para os empresários.

Haddad, por exemplo, ressaltou que a campanha de Bolsonaro pretender acabar com o 13º salário e relacionou o ex-deputado à agenda de Michel Temer.

Confira trechos importantes do debate

Reformas

Ao longo de mais de duas horas de debates, o tema reforma apareceu em algumas ocasiões.

Geraldo Alckmin disse que o país necessita de uma reforma política e defendeu a reforma trabalhista aprovada no governo Michel Temer. Alvaro Dias também disse ser favorável à reforma política.

Fernando Haddad criticou veementemente a reforma trabalhista e a reforma da previdência da forma como foi proposta pela equipe econômica de Michel Temer. Guilherme Boulos também criticou a reforma trabalhista.

Ex-ministro da Fazenda de Temer, Henrique Meirelles saiu em defesa das reformas trabalhista e da previdência como alternativa para o crescimento do país.

Saúde

Guilherme Boulos citou o envelhecimento da população e os altos preços da medicina no país para questionar a Alckmin quais suas propostas melhorar a questão da saúde.

“É preciso enfrentar a privatização da saúde no Brasil. Você acha que um deputado que foi financiado por um plano de saúde vai lutar pelo SUS”, questionou o postulante do PSOL.

Em sua resposta, Alckmin disse que “nunca” foi “favorável à PEC do Teto de Gastos”, mas salientou que ela foi “necessária porque o PT quebrou o país”. “O Brasil precisa voltar a crescer e para isso é preciso de confiança. A saúde está fora da PEC”, disse o ex-governador de São Paulo, que foi imediatamente contestado por Boulos que, por sua vez, ressaltou que a PEC do Teto incide diretamente sobre o investimento na saúde.

“Dizer que a saúde está fora da PEC do Teto é uma mentira, Geraldo. É preciso valorizar a saúde pública desde o começo, fortalecendo as equipes de saúde da família”, reiterou Boulos.

Gastos públicos e crescimento da economia

Questionado por Ciro Gomes qual sua proposta para ajudar os milhões de brasileiros endividados, Alckmin afirmou que ajudará a renegociar dívidas. O tucano aproveitou para defender maior implementação de bancos no Brasil e conceder crédito aos pequenos empreendedores.

Enquanto isso, Ciro voltou a defender sua proposta de ajudar os brasileiros a tirar o nome da inadimplência e negou que tenha proposta de ressuscitar a CPMF.

Fernando Haddad, por sua vez, defendeu maiores investimentos na área da infraestrutura e uma alternativa à PEC do Teto de gastos por outra fórmula fiscal que garanta investimentos no país e que poderá, inclusive, ajudar a diminuir o número de desempregos.

Desemprego

Por fim, a questão do desemprego também foi um tema bastante abordado pelos presidenciáveis na Record. Atualmente, dados do IBGE apontam que o país tem mais de 12 milhões de pessoas estão desempregadas no Brasil.

Os candidatos defenderam que é preciso que os brasileiros retomem a confiança nos governantes e que os investidores internacionais possam readquirir credibilidade no Brasil. Ciro Gomes, Marina Silva, Henrique Meirelles e Geraldo Alckmin ressaltaram que isso não será possível enquanto o país estiver envolto em uma polarização política e com clima de ódio.

“Nenhum país do mundo aguentará os desdobramentos que estamos visualizando para o País. Há 4 anos o Brasil não para pra discutir a massa dos desempregados e a violência que se desdobra disso”, afirmou Ciro Gomes sobre a política do ódio que, segundo ele, impacta diretamente no crescimento e geração de empregos para o país.

“Os radicais sempre tentam esconder o problema. O ódio não cria empregos e a vingança só produz destruição. Precisamos de uma política de entendimento e que tenha competência para levar o País para a direção certa”, ressaltou Meirelles.