Dono de afiliada da Record sugere apedrejar jornalistas que divulgam mortes por covid-19
Ex-senador Roberto Cavalcanti é dono de um conglomerado de comunicação na Paraíba
O empresário e ex-senador Roberto Cavalcanti defendeu que jornalistas e radialistas que noticiam os números de mortes causadas pelo novo coronavírus (covid-19) sejam “apedrejados”. A fala polêmica ocorreu na ontem durante um programa de rádio do próprio grupo de comunicação que pertence ao empresário
“Tem determinadas emissoras que ao darem o placar de quantos morreram no país naquele dia parece um gol da seleção do Brasil: ‘hoje batemos dez mil, batemos recorde!’. Isso é uma vergonha, é um país que deveria ter vergonha cara. Um radialista um jornalista que fizesse um negócio desse deveria ser apedrejado na rua”, disse Cavalcanti.
Ao perceber o erro, o ex-senador tentou se desculpar. “Descarrego meu silêncio de 62 dias para hoje. Me exaltei, peço desculpas”.
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A declaração de Roberto Cavalcanti foi dada em entrevista ao programa “Correio Debate”, da rádio Correio 98 FM, que pertence ao Sistema Correio de Comunicação — do qual ele é dono.
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O grupo é dono também da TV Correio, afiliada da Rede Record na Paraíba, além de rádios e jornais.
https://twitter.com/delucca/status/1260992581506301952
Nota de repúdio
Em nota, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Paraíba manifestou repúdio ao posicionamento do ex-senador Roverto Cavalcanti e prometeu “medidas cabíveis”.
A nota citou ainda a demissões no conglomerado e afirmou também que os profissionais do Sistema Correio de Comunicação não contam com equipamentos de proteção individual (EPIs) para trabalhar durante a pandemia.
Confira abaixo a íntegra da nota:
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Paraíba, filiado à FENAJ, vem a público repudiar as declarações do ex-senador e empresário do Sistema Correio, Roberto Cavalcanti, durante programa na Rádio 98 FM, que faz parte do conglomerado de comunicação. Em um momento no qual a imprensa brasileira vem sofrendo diversos ataques durante a cobertura da pandemia do coronavírus, agressões verbais e até mesmo físicas, o ex-senador afirma que jornalistas e radialistas que noticiam as mortes pela COVID-19 deveriam ser apedrejados na rua.
A declaração além de chocante causa repulsa na categoria, que foi considerada como serviço essencial durante a pandemia e continua trabalhando em seus postos normalmente. Nem mesmo as funções com possibilidade de trabalho remoto foram liberadas para tal. Outro agravante é a falta de equipamentos de proteção individual como máscaras em diversos desses locais do Sistema Correio, onde os trabalhadores estão expostos e, com isso, já foram identificadas pelo menos cinco infecções pelo vírus.
Agrega-se a essa situação que por si só já define o pensamento do Sr. Roberto Cavalcanti acerca dos trabalhadores que emprega o fato de ter extinguido, em plena pandemia, o jornal impresso Correio da Paraíba, deixando 38 jornalistas desempregados e sem perspectiva.
Porém, a atitude apesar de grave não surpreende, pois o Sistema Correio, do qual o Sr. Roberto Cavalcanti é empresário, há anos vem se negando a negociar reajustes para a categoria e, na primeira oportunidade de flexibilização de direitos, realizou uma demissão em massa mesmo em um momento no qual a proteção ao trabalhador deveria ser prioridade.
Repudiamos esse tipo de postura de qualquer pessoa, especialmente no que se refere a um empresário da área de comunicação. Tomaremos todas as medidas cabíveis para reparar a categoria em relação a essa declaração infeliz.