Indígenas recorrem a abaixo-assinado por testes de covid-19 em MT
Petição reúne mais de 104 mil assinaturas
Lideranças de povos indígenas de Mato Grosso lançaram um abaixo-assinado online para pedir que o Ministério da Saúde disponibilize testes para detecção do novo coronavírus nas aldeias do estado, onde pelo menos 35 indígenas já morreram da doença. A petição, aberta na plataforma Change.org, reúne mais de 104 mil assinaturas. Em um período de apenas 24 horas, entre sexta (26) e sábado (27), nove indígenas da etnia xavante morreram.
“A história nos mostra que epidemias já dizimaram comunidades inteiras. Agora, vivemos sob o risco de uma ameaça que tem alertado o mundo todo: a pandemia da covid-19, inimigo invisível que já chegou e avança em nossas terras. Tememos que um novo genocídio esteja em curso nos territórios indígenas, por isso lutamos e reivindicamos que o Estado brasileiro cumpra com o seu papel e nos proteja”, pedem no abaixo-assinado.
A campanha foi criada por duas lideranças indígenas – o psicólogo Soilo Urupe Chue, representante da regional Vale do Guaporé do povo chiquitano, no oeste de Mato Grosso, e a mestranda em direitos humanos Kaianaku Kamaiurá, que pertence ao povo kamaiurá, que vive no Alto Xingu. A mobilização ainda é apoiada por Cristian Wariu, que é do povo xavante e integra a Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt).
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Saiba como apoiar indígenas no enfrentamento do coronavírus
Segundo dados divulgados nesta quarta-feira (1º) pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), o novo coronavírus já atinge 119 povos nativos. Mais de 9,9 mil indígenas foram infectados e 407 morreram. “Esta pandemia está se espalhando rapidamente entre os nossos povos, especialmente aqueles que vivem em áreas mais afastadas. Precisamos de testes para detectar e isolar os casos o quanto antes”, diz Kaianaku na petição.
Ainda no abaixo-assinado, Soilo Urupe Chue pede que testes rápidos da Covid-19 sejam providenciados, com urgência, nos polos base de saúde e nas aldeias. A população indígena de Mato Grosso está estimada em 50 mil pessoas, que se distribuem em 86 terras. Do total, 22 mil pertencem ao povo xavante, que se concentra em nove regiões do estado.
“Sempre lutamos por nossa sobrevivência, contra o avanço de grileiros, garimpeiros e madeireiros em nossos territórios. Batalhamos pela demarcação de nossas terras, por respeito ao nosso povo e contra políticas que matam os direitos humanos. Agora, além de tudo isso, ainda precisamos brigar contra a ameaça da covid-19”, destacam na mobilização.
Cristian, que atua na Fepoimt para articular a política de defesa dos interesses e direitos indígenas, explica que um dos maiores temores é quando os indígenas precisam sair de seus territórios para buscar alimentos e medicamentos. O medo é que eles contraiam o vírus e retornem infectados para as aldeias, espalhando a doença aos demais. “A realização de testes é a única forma de controlar e impedir ainda mais o avanço da doença”, finalizam.
Indígenas em luto
Os xavantes já passaram por surtos de sarampo e meningite e travaram batalhas contra grileiros e exploradores. O desafio de lutar contra o coronavírus é sentido de forma ainda mais direta por Cristian, que perdeu os avós para a doença _ Angela Xavante e Eduardo Tseremey´wá _, que foi um dos responsáveis pelos contatos com não índios nos anos 1940.
Além dos avós, o pai de Cristian, Crisanto Rudzö Tseremey’wá, também contraiu a covid-19 e chegou a ficar internado em estado delicado numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Crisanto, que agora já se recupera, é um importante líder xavante e presidente da Fepoimt.
Além do abaixo-assinado, os xavantes têm recorrido a outros meios para amparar seu povo em meio à pandemia, como uma vaquinha online que arrecada recursos para a compra de itens de saúde, remédios e cestas básicas. A campanha está aberta no site do Xapuri Socioambiental. Veja como ajudar: captar.info/campanha/sosxavante.
Mato Grosso contabiliza 17.401 casos do coronavírus e 665 mortes. Em Cuiabá, capital do Estado, a taxa de ocupação dos leitos de UTI para tratamento de pacientes com covid-19 é de quase 93% nos hospitais públicos. O dado é da Secretaria Estadual de Saúde.
Movimento contra o coronavírus
A petição que pede proteção aos povos indígenas foi inserida em um movimento, criado pela organização Change.org, para dar mais visibilidade às campanhas que tratam de assuntos relacionados à pandemia do novo coronavírus. A página conta com 277 petições online, que engajam um total de 7,3 milhões de assinaturas, em torno de ações contra a pandemia.
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