Com digitalização de aulas, pandemia acentua exclusão escolar

O que estados e municípios estão oferecendo aos estudantes não pode ser classificado como ensino a distância

Conteúdo por Agência Brasil
03/07/2020 22:05 / Atualizado em 05/07/2020 22:20

Relatório divulgado na última semana de junho pela Unesco aponta que 40% dos 200 países não têm como oferecer apoio a estudantes no ensino a distância durante a pandemia do novo coronavírus.

No Brasil, o estudo fez observações quanto a escolas que aprovam estudantes que não assimilaram de fato os conteúdos e a barreiras enfrentadas pela parcela negra, definidas como “legado de oportunidades limitadas de educação”.

Com a pandemia, a exclusão escolar se amplia com a falta de acesso à internet
Com a pandemia, a exclusão escolar se amplia com a falta de acesso à internet - Divulgação/MCTIC

Em abril, o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e o PMA (Programa Mundial de Alimentação) estimaram que cerca de 370 milhões de crianças poderiam ficar sem merenda, como resultado do fechamento das escolas ao longo da crise sanitária.

Os números mostram como alunos socialmente vulneráveis acabam enfrentando mais obstáculos no contexto atual. Agora, a exclusão escolar se amplia com a falta de acesso à internet.

Apesar de ser adotada pelas redes públicas de ensino, como forma de garantir que os estudantes possam dar continuidade aos estudos, a ferramenta não está ao alcance de todos, que precisam utilizá-la para complementar materiais impressos, assistir às aulas online, resolver exercícios ou manter contato com os professores.


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Percepção dos estudantes

Para a médica Talita Amaro, que coordena o cursinho pré-vestibular popular Mafalda, vinculado à Associação Beneficente Meraki, o que as secretarias municipais e estaduais de Educação estão oferecendo aos estudantes não pode ser classificado como ensino a distância, porque ele pressupõe a existência de uma “construção do conhecimento em fases”.

Em um levantamento do qual participaram 192 alunos matriculados, a organização do cursinho apurou que 48% têm aulas regulares (ensino médio ou técnico) e exercícios online, 16% apenas algumas disciplinas ou exercícios online e 3% não têm nem aulas, nem exercícios disponibilizados pela escola.

Outro dado importante é que 67% declararam que não têm aprendido tanto em ambiente virtual quanto presencialmente.

As maiores dificuldades citadas foram concentração e disciplina (74%), privacidade (51%), cumprir a carga horária (44%) e cansaço com a rotina de aulas pela internet (43%).

A dependência dos recursos tecnológicos e o distanciamento dos educadores foram fatores indicados como negativos pela maioria dos entrevistados – 75% e 96%, respectivamente.

“O ensino a distância tem estrutura pedagógica específica. Você não chega simplesmente, dá uma aula para o aluno e acha que aquilo substitui qualquer outra atividade. É um ensino progressivo. Toda vez que você se matricula em um curso online, ele tem uma estrutura preconcebida, que foi pensada no seu desenvolvimento. Então, você inicia com texto-base, faz algumas atividades avaliativas, assiste a aula, mas tem, constantemente, um feedback”, afirma.