As 4 maneiras pelas quais o álcool pode causar câncer; sabia delas?

O consumo diário de álcool aumenta o risco de diferentes tipos de câncer, incluindo câncer de mama, e esse consumo não precisa ser muito grande

Por Silvia Melo em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
19/03/2025 16:26 / Atualizado em 22/03/2025 19:30

Em 2020, mais de 741.000 casos de câncer em todo o mundo foram atribuídos ao consumo de álcool. E não pense que você precisa participar de bebedeiras ou ter transtorno de uso de álcool para se colocar em risco. Consumir uma única bebida diária é o suficiente.  

 Segundo a Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (IARC), órgão da Organização Mundial da Saúde (OMS), o álcool é classificado como um carcinógeno do Grupo 1, ou seja, há evidências científicas suficientes de que ele causa câncer em humanos. Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) indicam que cerca de 4% dos casos de câncer no mundo são atribuídos ao consumo de bebidas alcoólicas, sendo essa uma das principais causas evitáveis da doença.

A bebida alcoólica está diretamente ligada ao aumento do risco de diversos tipos de câncer, incluindo os de boca, garganta, esôfago, fígado, cólon e mama. E como, exatamente, o álcool causa câncer?

O corpo converte álcool em um produto químico tóxico

O etanol, principal componente das bebidas alcoólicas, é metabolizado pelo corpo e convertido em acetaldeído, uma substância altamente tóxica e cancerígena. Esse processo pode desencadear mutações genéticas que favorecem o crescimento descontrolado das células, levando ao desenvolvimento de tumores. Além disso, o consumo frequente de álcool pode comprometer o sistema imunológico, dificultando a eliminação de células cancerígenas antes que se multipliquem.

O consumo diário de álcool aumenta o risco de diferentes tipos de câncer
O consumo diário de álcool aumenta o risco de diferentes tipos de câncer - Yta23/istock

O álcool aumenta a inflamação

Você pode estar familiarizado com o termo “antioxidante” como uma palavra da moda de bem-estar, e sabe que alimentos ricos em antioxidantes, como beterraba e mirtilos, podem melhorar sua saúde. O álcool gera moléculas instáveis ​​chamadas espécies reativas de oxigênio. Também conhecidas como radicais de oxigênio, elas podem arruinar o DNA, RNA e proteínas, além de causar morte celular. Os antioxidantes, como o nome sugere, podem proteger as células desse estresse oxidativo.

O álcool aumenta o estrogênio, aumentando as chances de câncer de mama

O consumo de álcool pode aumentar os níveis de estrogênio, o que está diretamente ligado a um maior risco de câncer de mama. O estrogênio é um hormônio essencial para diversas funções no corpo, mas seu excesso pode estimular o crescimento descontrolado das células mamárias, levando ao desenvolvimento de tumores.

Estudos mostram que até mesmo o consumo moderado de álcool pode elevar os níveis desse hormônio. Isso ocorre porque o álcool interfere no metabolismo do fígado, reduzindo sua capacidade de quebrar e eliminar o estrogênio do organismo. Com isso, há um acúmulo da substância na corrente sanguínea, o que favorece o crescimento de células anormais na mama. Além disso, o álcool pode aumentar a produção de estrogênio pelos tecidos adiposos e pelas glândulas suprarrenais, intensificando ainda mais esse efeito.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer dos EUA (NCI), mulheres que consomem regularmente bebidas alcoólicas têm um risco 15% maior de desenvolver câncer de mama em comparação com aquelas que não bebem. Esse risco aumenta proporcionalmente à quantidade de álcool ingerida.

O álcool aumenta a inflamação

O álcool também pode causar câncer por meio da inflamação crônica, especialmente no fígado, no trato digestivo e em outras partes do corpo. Quando o álcool é metabolizado, ele pode irritar e danificar os tecidos, desencadeando uma resposta inflamatória.

Por exemplo, no fígado, o consumo frequente de álcool pode levar à esteatose hepática (acúmulo de gordura), à hepatite alcoólica e, eventualmente, à cirrose. Durante esse processo, as células do fígado sofrem danos repetidos e se regeneram de forma descontrolada, aumentando o risco de câncer de fígado.

Além disso, o álcool pode causar inflamação no trato digestivo, prejudicando a barreira protetora do intestino e permitindo que substâncias tóxicas entrem na corrente sanguínea. Isso pode estimular processos inflamatórios sistêmicos que favorecem o desenvolvimento de cânceres gastrointestinais.

A inflamação também pode enfraquecer o sistema imunológico, tornando o organismo menos eficiente na identificação e destruição de células potencialmente cancerígenas. Assim, a inflamação crônica provocada pelo álcool não apenas danifica diretamente os tecidos, mas também cria um ambiente favorável para o crescimento de tumores.