Como a IA está revolucionando os cuidados com a saúde mental?
Mercado de IA na saúde tem projeção de alcançar cerca de US$188 bilhões até 2030
Muito se discute sobre a aplicação da inteligência artificial no setor de tecnologia, mas seu impacto em áreas essenciais, como a saúde, ainda recebe menos atenção.
De acordo com a Accenture, a IA tem o potencial de gerar uma economia anual de até US$150 bilhões na área de saúde dos Estados Unidos até 2026, aumentando a eficiência dos tratamentos, otimizando os fluxos de trabalho hospitalar e auxiliando no manejo de doenças crônicas.
No cenário global, o mercado de inteligência artificial na saúde tem projeção de alcançar cerca de US$188 bilhões até 2030, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 37%, segundo a Content Detector AI. Esse avanço é impulsionado pela crescente adoção da IA em diagnósticos médicos, planejamento de tratamentos e monitoramento de pacientes.
- O que vemos na internet afeta nossa saúde mental? Estudo esclarece
- TDPM: conheça o transtorno que pode ser confundido com depressão
- Ciclotimia: os sinais e sintomas do transtorno que afeta o humor das pessoas
- Dêmencia: Por que estes 2 fatores aumentam o risco da doença?
Especificamente na área de saúde mental, o uso da IA vem se mostrando promissor. Um estudo da Universidade de Stanford revelou que a IA pode diagnosticar a depressão com uma taxa de precisão de 80%, ao analisar dados de voz e texto dos pacientes. A tecnologia permite identificar padrões linguísticos associados à depressão, proporcionando diagnósticos mais rápidos e precisos, além de otimizar o acompanhamento clínico.
“A IA está em quase tudo o que fazemos e seria um contrassenso não adicionarmos essa ferramenta nos avanços da saúde mental. Através dela é possível ampliar o acesso a cenários e diagnósticos mais eficazes e possibilitar a intervenção preventiva em determinados casos, permitindo que profissionais de saúde identifiquem sinais de alerta antes mesmo de uma patologia se manifestar de forma grave. Essa abordagem transforma por complemento a área da saúde, que passa a ser mais proativa e personalizada, reduzindo o tempo de internação e melhorando a qualidade de vida dos pacientes”, declara a psicanalista e Presidente do Ipefem (Instituto de Pesquisa de Estudos do Feminino e das Existências Múltiplas), Ana Tomazelli.
O impacto da IA no tratamento da saúde mental
Para Tomazelli, a inteligência artificial pode transformar o tratamento da saúde mental, especialmente ao contribuir para a diferenciação entre aquilo que é de fato patológico e um período de tristeza, angústia ou frustração, por exemplo, decorrente das circunstâncias da vida.
A IA também pode facilitar o acesso às terapias de forma mais ágil. “Ferramentas como chatbots têm a capacidade de reduzir a sobrecarga dos profissionais de saúde, permitindo um suporte inicial de qualidade e avançando no tratamento, sem abrir mão do suporte humano posterior”, completa.
Segundo o especialista em Desenvolvimento de Lideranças e Saúde Mental no trabalho, Renato Herrmann, a personalização das interações, proporcionada por algoritmos de aprendizado de máquina, cria uma experiência mais relevante e envolvente para cada paciente. “Alguns sistemas já adaptaram suas conversas com base no histórico e nas preferências do paciente, tornando o processo terapêutico mais dinâmico e eficaz”, complementa.
Além disso, o uso de elementos interativos e gamificação, comuns em aplicativos de IA para saúde mental, tornam o processo de tratamento mais acessível e ensinam formas diferentes do cuidado com a saúde mental. “Isso é especialmente benéfico para quem tenha algum tipo de resistência à terapia tradicional”, declara Herrmann. O monitoramento contínuo do progresso do paciente, com feedback em tempo real e ajustes no plano de tratamento, também cria um senso de progresso e motivação, essenciais para manter o engajamento a longo prazo.
Outro benefício significativo é a redução do estigma associado à busca por ajuda mental. “A privacidade e o anonimato proporcionados por soluções baseadas em IA encorajam mais pessoas a darem o primeiro passo em direção ao cuidado com sua saúde mental”, pontua o especialista.
Exemplos de como a tecnologia tem ajudado no tratamento de transtornos mentais
De acordo com o especialista em tecnologias emergentes, dados, inovação e professor de MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Kenneth Corrêa, embora os números mostrem o quanto a inteligência artificial pode ser benéfica no tratamento psicológico, é raro ver terapeutas brasileiros utilizando a tecnologia. No entanto, em alguns países, como o Reino Unido, um assistente de autorreferência baseado em IA aumentou em 29% as indicações para tratamento de saúde mental entre minorias étnicas.
“Esse sistema analisa as respostas dos pacientes em formulários de triagem online e demonstrou sua eficácia na detecção precoce e na redução de barreiras ao acesso ao tratamento”, afirma Kenneth.
Diversos aplicativos também estão melhorando o tratamento de saúde mental ao redor do mundo, Kenneth explica alguns exemplos:
1) Woebot ou Wysa: oferece suporte emocional e terapia cognitivo-comportamental em qualquer momento do dia. Esses assistentes virtuais utilizam processamento de linguagem natural para interagir com os usuários, fornecendo apoio imediato e personalizado.
2) Limbic: utiliza algoritmos de machine learning para analisar padrões de comportamento, linguagem e até mesmo dados de redes sociais para identificar sinais precoces de condições como depressão ou ansiedade. O uso dessa plataforma resultou em um aumento significativo de indicações para tratamento no sistema de saúde britânico.
3) Spring Health: usa machine learning para analisar dados dos pacientes e sugerir abordagens terapêuticas mais eficazes para cada indivíduo, permitindo uma abordagem mais precisa e adaptada às necessidades específicas de cada pessoa.
4) iPsi: integra IA para auxiliar profissionais de saúde mental em diagnósticos de personalidade e discussões de casos clínicos, oferecendo insights mais profundos e assertivos.
Para o especialista, o impacto da inteligência artificial no campo da saúde, especialmente na saúde mental, é inegável, no entanto, o seu uso não substitui o julgamento clínico, mas o complementam, permitindo uma análise mais abrangente e eficiente.