Modificação genética faz corpo produzir seu próprio “Ozempic”, mostra estudo japonês

Estudo com camundongos mostrou resultados positivos, abrindo caminho para testes com humanos

Por Silvia Melo em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
15/07/2025 20:30

Um estudo revolucionário da Universidade de Osaka, no Japão, revelou que é possível programar geneticamente o organismo para produzir sua própria versão de medicamentos da classe do Ozempic, usados no tratamento da obesidade e do diabetes tipo 2.

Utilizando uma técnica de edição genética com nanopartículas lipídicas, os cientistas modificaram o fígado de ratos para que eles passassem a produzir a exenatida, um análogo do GLP-1 com efeito semelhante ao do famoso medicamento.

Essa abordagem funcionou como uma “injeção única” de terapia gênica. A substância terapêutica permaneceu ativa por até 28 semanas, com resultados expressivos na redução de apetite, peso e resistência à insulina e sem efeitos colaterais relevantes. Isso abre caminho para uma possível substituição das aplicações semanais de GLP-1 por um tratamento duradouro e de aplicação única.

Como essa tecnologia se diferencia?

Diferentemente das terapias atuais, como o Ozempic e a semaglutida, que dependem de injeções regulares para manter a ação do hormônio, o novo estudo aposta em um modelo mais permanente: ensinar o corpo a fabricar seu próprio “remédio”. Isso foi possível graças à inserção de um gene modificado por CRISPR no DNA dos camundongos, fazendo com que o fígado se tornasse uma “fábrica biológica” de exenatida.

Os agonistas do GLP-1, como a exenatida e a semaglutida, imitam o hormônio natural que regula o açúcar no sangue e ajuda no controle do apetite. Até então, o maior avanço foi a criação de versões de longa duração, como o Ozempic, que reduziu a frequência de uso para apenas uma aplicação por semana. Agora, a proposta japonesa vai além: eliminar a necessidade de injeções contínuas.

E os testes em humanos?

Embora o estudo ainda esteja na fase animal, os resultados chamaram atenção da comunidade científica e da indústria. Empresas como a Fractyl Health, nos Estados Unidos, já estão desenvolvendo terapias genéticas semelhantes e com testes promissores em roedores.

Testes ainda devem ser feitos em humanos
Testes ainda devem ser feitos em humanos - ito:Ignatiev/istock

Segundo os pesquisadores japoneses, o próximo passo é avançar para estudos clínicos em humanos. A expectativa é de que essa tecnologia possa um dia oferecer alternativas definitivas para o tratamento da obesidade, diabetes tipo 2 e outras condições metabólicas.

Ainda que os testes em humanos estejam por vir, o estudo marca um avanço impressionante no campo da medicina de precisão e edição genética, e sinaliza que o futuro do combate à obesidade pode estar dentro do próprio corpo.