Tight Lacing: técnica altera disposição de costelas e preocupa médicos
Uso contínuo do acessório pode alterar também os órgãos internos, causando danos à saúde
De símbolo de nobreza à instrumento de tortura, de alvo de protestos feministas à ícone sensual, o corset resistiu ao tempo e as variações da própria moda. O polêmico acessório que afina a cintura e dá mais curvas ao corpo feminino agora ressurge em uma técnica chamada Tight Lacing e vem ganhando cada vez mais adeptas influenciadas por blogs e redes sociais.
Tight lacing ou “laço apertado” em uma tradução literal é o nome dado à prática de usar um corset por longos períodos, no intuito de alterar a silhueta definitivamente, reduzindo a cintura.
A técnica consiste no uso de corset por muitas horas – de 6h a 18h diárias – ou continuamente – até na hora de dormir – para que as costelas chamadas de flutuantes se moldem e se curvem afinando assim a cintura, fazendo o famoso “formato violão”, onde a cintura é fina e a curva do quadril é saliente.
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O problema é que para que isso aconteça, o acessório causa uma deformação das costelas, alterando muitas vezes também os órgãos internos, o que pode causar uma série de danos à saúde.
O corset utilizado para este fim é uma evolução dos espartilhos que nossas bisavós e tataravós usaram. Eles são feitos de aço, estruturados e reforçados, com várias camadas de tecidos, geralmente em sarja, e com barbatanas. Geralmente, ele costuma ser feito sob medida, com 10 a 12 cm, em média, a menos da medida da cintura da pessoa.
Tight Lacing x cinta modeladora
Embora parecidos, o Tight Lacing não é a mesma coisa que cinta modeladora, segundo explica o ortopedista Rafael Fonseca. “Os corsets propõem a modificação da estrutura óssea da região, afinando a cintura e as costelas definitivamente, já as cintas apenas modelam instantaneamente a cintura como se fosse uma esponja que ao ser comprimida afina a cintura mas dentro de algumas horas volta a circunferência original” diz o especialista em Ortopedia e Traumatologia do Esporte.
Alerta médico
Os corsets são vistos com grande preocupação médica. De acordo com o ortopedista Rafael Fonseca, a utilização frequente desse acessório pode acarretar em uma série de alterações no corpo. “É imprescindível ter acompanhamento médico para ser iniciado, há necessidade em procurar ajuda não só de um ortopedista, mas também de angiologista e preparador físico” afirma.
Confira alguns problemas que podem ser causados pelo mau uso do corset:
1. Enfraquece a musculatura
O uso constante do corset, na verdade, deixa o abdômen fraco, pois reduz a ação ativa dos músculos. Isso faz com que ele não exerça suas funções de estabilização em todas as atividades do cotidiano e laborais, potencializando lesões.
O praticante de Tight Lacing, imprescindivelmente, precisam fazer exercícios abdominais diários. Isso porque, no abdômen, estão os músculos do core, que dão sustentação a toda coluna vertebral.
No entanto, o acessório não deve ser utilizado na academia. “Malhar com o corset é pura loucura”, diz o ortopedista. Mesmo assim, há praticantes que divulgam irresponsavelmente nas redes sociais alguns exercícios específicos para serem feitos durante o uso do corset. “Isso não pode ser feito jamais. A recomendação para quem faz Tight Lacing é exercitar diariamente os músculos abdominais, porém quando não se está usando o corset”, completa o médico.
2. Dificulta a respiração
Sabe aquela história de que no passado muitas mocinhas desmaiavam usando espartilhos apertadíssimos? O corset aperta as costelas permanentemente e diminui a expansão do pulmão. Pode atrapalhar o processo de digestão, demorando mais tempo do que o normal para que a digestão seja feita.
3. Faz mal para a pressão sanguínea
Quer resultado pior do que o aumento da pressão arterial e o aparecimento de varizes? O corset deixa o retorno sanguíneo para o coração comprometido, o que prejudica a circulação. Pessoas com propensão à trombose só podem iniciar a prática depois de liberação médica.
4. Comprime os órgãos internos
Como aperta todos os órgãos, o corset diminui o movimento peristáltico e prejudica o funcionamento do estômago e intestino, o que deixa a digestão comprometida.