Transtorno alimentar é doença e exige tratamento especializado
Os distúrbios alimentares podem afetar homens e mulheres, meninos e meninas, ricos e pobres, gordos e magros
Como escrevi aqui na primeira das minhas contribuições para a Catraca Livre, a relação de boa parte das pessoas com a comida e o ato de comer está cada vez mais atormentada. Muita gente vivencia um sofrimento grande quando o assunto é escolher o que fará parte da próxima refeição, seja por excesso de culpa ao ingerir determinados alimentos, seja por um fanático hábito de seguir dietas.
Todo esse envolvimento negativo com a comida traz a necessidade de entendermos e discutirmos o tema dos transtornos alimentares – uma doença seríssima e que está diretamente ligada com essa relação conturbada das pessoas diante dos alimentos. Os distúrbios alimentares são bem democráticos: homens e mulheres, meninos e meninas, ricos e pobres, gordos e magros. Todos, sem exceção, podem estar sujeitos a eles.
Há anos dedico minha prática clínica e meus estudos ao tema dos transtornos alimentares. Minha experiência junto ao Ambulatório de Anorexia Nervosa do Hospital das Clínicas de São Paulo, do qual sou coordenadora desde 2011, vem me mostrando a urgência de prestar esclarecimentos à sociedade sobre essa importante questão.
Transtornos alimentares são doenças psiquiátricas complexas que necessitam de tratamento especializado. Os transtornos mais comuns são a Anorexia Nervosa, a Bulimia Nervosa e o Transtorno de Compulsão Alimentar – sobre o último acesse aqui para ler e entender mais.
Muitos mitos circundam o assunto. O mito mais comum é a premissa de que os transtornos alimentares se constituiriam, na realidade, em uma mera questão de escolha – e que, portanto, só não melhoraria desses transtornos quem não o quisesse. Nada mais longe da verdade. Assim como outras doenças psiquiátricas, como a depressão e o transtorno de ansiedade, por exemplo, os transtornos alimentares não dependem da simples escolha daqueles que os possuem. É preciso recorrer a um tratamento especializado.
O tratamento terá características individuais para cada paciente, apresentando metas específicas de acordo com a situação, a gravidade, a cronicidade e a história da doença. Para além das especificidades de cada paciente, há também as especificidades de cada tipo de transtorno.
Na parte nutricional, a ressignificação da relação do paciente com o corpo e a comida forma a base para a remissão dos distúrbios de alimentação. Pela ótica do tratamento que acredito ser o mais eficiente, bons resultados dependem sobretudo de empatia e respeito para com o paciente.
Nos próximos textos para a Catraca, escreverei de maneira mais detida sobre cada um dos tipos de transtorno alimentar. Espero poder colaborar com a quebra de tabus e mitos que impedem que muitas pessoas iniciem tratamento. No fundo, buscar ou não ajuda é a única – e crucial – escolha que depende daqueles que sofrem com essa terrível doença.
Texto escrito pela nutricionista Marcela Kotait.