Como repensar o arroz no prato
E se pensarmos no arroz como comida que é, e não como carboidrato?
Durante essa semana acompanhamos a questão dos preços cada vez mais altos nos supermercados, atingindo alimentos básicos da mesa dos brasileiros, em especial o arroz. Além de protagonizar polêmicas alimentares sobre se deve ser colocado em cima ou embaixo do feijão, na última semana o arroz também foi assunto de diversos programas de TV e artigos na imprensa e na internet sobre quais alimentos podem ser bons para substitui-lo nesse momento de alta de preços, como a batata, o macarrão, a mandioca e a farinha.
Com todo holofote no arroz, apareceram mais uma vez os modismos alimentares relacionados a carboidratos e seu suposto papel de vilão na busca da perda de peso. Esse é um mito que traz prejuízo para a construção de uma boa relação das pessoas com o ato de comer.
O medo de ingerir carboidratos não é de hoje. Várias dietas demonizam seu consumo: há aquelas em que a proibição é total, e outras baseadas em uma lista que varia de acordo com a quantidade de carboidrato em cada alimento.
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Mas, independente do nome, da forma, todas as dietas sem carboidratos são restritivas e, como toda dieta restritiva, além de prejudicar a relação das pessoas com a comida e com o ato de comer, são pouquíssimo sustentáveis no longo prazo, tendendo a ser ineficiente e falhar em poucos anos com a recuperação do peso perdido.
Embora a alta dos preços altere o cardápio, é importante lembrar que no Guia Alimentar para a População Brasileira, documento de 2014 do Ministério da Saúde, reconhecido no mundo inteiro como um material de excelência, a importância dada ao arroz e aos seus substitutos – à mandioca, à batata, ao milho – enquanto expressões da cultura brasileira é marcante, além, óbvio, da importância desses alimentos em termos nutricionais.
O Guia ressalta a necessidade do consumo de fontes de carboidrato in natura (ou seja, não processadas) para uma alimentação verdadeiramente saudável. E um lembrete presente no Guia também é fundamental quando abordamos dietas como gatilhos para relações inadequadas com a alimentação: não comemos nutrientes, como o carboidrato, e sim comida, como arroz, batata e mandioca.
Então, diante de atual situação econômica, sugiro que pense no arroz como comida que é, escolhendo o seu substituto pensando naquele que você mais gosta, comendo com prazer e permissão incondicional.
Texto escrito pela nutricionista Marcela Kotait.