Estudo com chineses sugere que imunidade contra coronavírus não existe
De acordo com pesquisadores, recuperados de covid-19 podem não produzir anticorpos suficientes para impedir reinfecção
Um estudo feito por cientistas chineses e americanos sugere algo nada animador: talvez a tão sonhada imunidade contra o novo coronavírus não exista. “É improvável que as pessoas produzam anticorpos protetores duradouros contra esse vírus”, concluíram os pesquisadores da Universidade de Wuhan e da Universidade do Texas em um artigo não revisado por pares publicado no site medRxiv.org na terça-feira, 16.
O estudo se propôs a avaliar se trabalhadores de hospitais de Wuhan expostos diretamente a pacientes infectados no estágio inicial do surto desenvolveram anticorpos.
Pelo menos um quarto das mais de 23 mil amostras testadas poderia ter sido infectado com o vírus em algum momento, segundo os cientistas. Mas apenas 4% desenvolveram anticorpos a partir de abril.
Com isso, o estudo levanta a suspeita de que nem todos os infectados podem produzir anticorpos ou mesmo que produzam, esses anticorpos podem não ser de longa duração.
A equipe de pesquisadores também sugeriu que mais de 10% das pessoas estudadas podem ter perdido a proteção de anticorpos dentro de um mês ou mais.
O resultado do estudo, no entanto, deve ser visto com cuidado, de acordo com diretor de pesquisa de engenharia de anticorpos da Southern Medical University, em Guangzhou, na China. Ele observou que a maioria dos testes de anticorpos verifica apenas alguns anticorpos para economizar tempo e custo – e isso pode significar resultados falsos.
“Ainda existem muitas coisas fundamentais sobre o coronavírus que não entendemos”, disse.
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Anticorpos são as moléculas produzidas pelo sistema imunológico que se liga à proteína do vírus, impendido que ela invada as células do corpo.
Imunidade em teste
Em outros estudos realizados para conferir o grau de imunidade de pessoas já curadas da covid-19, foi observado algo parecido. Um deles, realizado por pesquisadores espanhóis, analisou o plasma sanguíneo de 111 pessoas que foram infectadas com o vírus e tiveram sintomas leves ou nem apresentaram sintomas.
De acordo com os pesquisadores, 44% dessas pessoas apresentaram níveis extremamente baixos de anticorpos neutralizantes. Ou seja, elas não estariam protegidas contra uma segunda infecção.
Este mesmo estudo descobriu que aqueles que apresentaram sintomas graves da doença tinham aproximadamente 10 vezes mais anticorpos do que outros grupos.
Na Alemanha, cientistas também observaram duração curta da imunidade protetora ao coronavírus. Em um estudo que monitorou 10 homens que tiveram a doença, os cientistas constataram uma redução substancial nos níveis de anticorpos depois de seis meses, o que aumentaria o risco dessas pessoas sofrerem uma segunda infecção.
Em resumo, até que a ciência esclareça todos esses detalhes, é necessário que todos, mesmo aqueles que já foram infectados, continuem se cuidando, lavando as mãos, usando máscaras e mantendo distanciamento social.