Saúde muda discurso e diz que não há interesse por vacinas chinesas
Bolsonaro desautorizou Pazuello e disse que mandou cancelar protocolo de intenção de compra das doses da CoronaVac
Um dia após anunciar um acordo para a compra de 46 milhões de doses da vacina CoronaVac, da biofarmacêutica Sinovac Life Science, em parceria com o Instituto Butantan, o Ministério da Saúde agora informa que não há interesse por vacinas chinesas. Afirmação foi feita por Elcio Franco, secretário-executivo da Saúde.
O tom do discurso mudou bastante após a intervenção do presidente Jair Bolsonaro, que afirmou nesta manhã que o governo brasileiro não iria comprar a vacina chinesa e, em seguida, informou que havia mandado cancelar o protocolo de compra.
“Já mandei cancelar. O presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade”, disse Bolsonaro, que também negou ter desautorizado Pazuello. “Estamos perfeitamente afinados com o Ministério da Saúde na busca por uma vacina confiável. Tudo fora disso é jogo político”.
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No anúncio de terça-feira, 20, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, chegou a afirmar que a vacina em questão seria “a vacina do Brasil” após reunião virtual com representantes do Instituto Butantan e com 24 governadores do país.
Vídeo da reunião publicado
Para confirmar o acordo de compra entre o Ministério da Saúde e o Butantan, o governo do Estado de São Paulo publicou hoje um vídeo na íntegra da reunião com Pazuello.
“A Secretaria de Comunicação do Estado de São Paulo, em nome da transparência, disponibiliza a íntegra da reunião que ocorreu na tarde desta terça-feira (20), com os 24 governadores do país e de representantes do Ministério da Saúde, tais como o próprio ministro Eduardo Pazuello, o secretário-executivo, Elcio Franco, e o secretário de Vigilância em Saúde (SVS), Arnaldo Correia de Medeiros”, diz o comunicado do governo paulista à imprensa.
Em meio a essa turbulência, o Ministério da Saúde retirou do ar o comunicado que informava sobre a aquisição de 46 milhões de doses da CoronaVac publicado após a reunião de ontem. Na sequência, publicou outro documento com alterações.
Enquanto a primeira versão informava que “o Brasil negocia aquisição de 46 milhões de doses contra a Covid-19 com Instituto Butantan”, a segunda diz que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, “assinou protocolo de intenções para adquirir 46 milhões de doses da Vacina Butantan – Sinovac/Covid-19, em desenvolvimento pelo Instituto Butantan”.
A mudança de discurso gerou revolta nos governadores que participaram da reunião virtual. Eles consideram uma tentativa de sabotagem por parte de Bolsonaro. O governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B), diz que cogita recorrer à Justiça para ter acesso a vacinas que forem aprovadas pelos órgãos reguladores.
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), defende que a vacina não deve ser politizada. “Nós temos instituições renomadas trabalhando nesse assunto, como a Fiocruz e o Butantan. O que deve ser observado é a condição de segurança, a viabilidade técnica e também a agilidade para disponibilizar essa vacina e imunizar a população. Ou seja, sem análises políticas”, afirmou.
“Inaceitável tratar esse tema com ideologia. A hora é de paz, de união para salvar vidas. E não de eleição”, publicou o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).