Moradores lutam por reabertura de hospital na zona leste de SP

Em meio ao colapso da saúde em Ermelino Matarazzo, o equipamento comprado em 2014 segue abandonado pelo poder público

Hospital e Maternidade Menino Jesus, comprado pela prefeitura em 2014
Créditos: Douglas Samoel
Hospital e Maternidade Menino Jesus, comprado pela prefeitura em 2014

Em meio ao colapso da saúde decorrente da pandemia da covid-19, moradores de Ermelino Matarazzo, na zona leste de São Paulo, lutam pela reabertura do Hospital e Maternidade Menino Jesus, comprado há mais de 5 anos. O grupo protocolou a solicitação em um ofício à Secretaria Municipal de Saúde, com cópia para o Ministério Público do Estado de São Paulo.

No texto, o movimento ressalta o grave problema do acesso à saúde no bairro, pois o Hospital Dr. Alípio Correia Neto, conhecido como Hospital de Ermelino, único público da região, chegou ao colapso, com 100% dos leitos das UTIs ocupados por pacientes infectados pelo novo coronavírus. Ermelino Matarazzo teve 41 mortes por causa da doença até o início deste mês — 3,4 óbitos para cada 100 mil habitantes.

De acordo com o professor Douglas Samoel, de 38 anos, morador do bairro, a situação está complicada, pois só há um único hospital público para atender milhares de moradores e os dados de mortes não são atualizados com frequência pela prefeitura. “Não há políticas públicas para nos atender”, enfatiza em entrevista à Catraca Livre.

Dessa forma, os próprios moradores se organizaram para atuar no combate ao novo coronavírus. “A gente organizou, junto com outros movimentos, um carro de som, que sai pela região para alertar sobre distanciamento social, lavar as mãos e manter a solidariedade”, afirma Douglas.


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O equipamento público foi adquirido pelo município em 2014 por R$ 2,5 milhões, na gestão de Fernando Haddad (PT), para ser transformado em “Hospital Dia”, da rede Hora Certa. O espaço, após investimentos de R$ 5 milhões para a reforma e compra de equipamentos, seria responsável pela realização de cirurgias simples. No entanto, quase 6 anos depois, nada mudou e o local continua abandonado, inclusive pela zeladoria urbana.

“Requeremos a imediata apresentação de um plano de gestão emergencial de abertura e funcionamento do Hospital e Maternidade Menino Jesus, em função da atual crise e, especialmente, em virtude da supremacia do interesse público”, afirma a nota do movimento dos moradores, conduzido pela Frente Democrática Ermelino Matarazzo.

“Em caráter de urgência, requer-se ainda a apresentação de um plano de atendimento/orientação voltado aos moradores do bairro de Ermelino Matarazzo já infectados pelo covid-19”, complementa o grupo, que realizou um ato em frente ao hospital no dia 6 de maio.

O documento é assinado por diversos movimentos e coletivos do bairro, como Ocupação Cultural Ermelino Matarazzo, Unidos de Filhos do Zaire, Paróquia São Francisco de Assis, Jardim Verônia Esporte Clube e Projeto Varre Vila.

O bairro de Ermelino tem mais de 200 mil moradores e enfrenta problemas relacionados à falta de investimentos do poder público para a saúde. O Hospital de Ermelino, único no bairro e que atende também pacientes de outras regiões da zona leste, vive quase sempre à beira do colapso e com pacientes pelos corredores por falta de leitos.

O que diz a prefeitura

Procurada pela Catraca Livre, a gestão Bruno Covas (PSDB) informou que o Hospital Menino Jesus foi incluído, no ano passado, no projeto Avança Saúde, com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Segundo a nota, o equipamento será transformado em uma unidade CCI (Cuidados Continuados Integrados).

“Com esse novo serviço, a estratégia é liberar a oferta de leitos de baixa e média complexidade dos hospitais municipais. O projeto executivo foi concluído na última semana e será iniciado o processo de licitação para contratação das obras ainda neste mês”, explica a prefeitura.