Curados de covid-19 podem enfrentar pelo menos 3 sequelas
Alguns pacientes vão exigir acompanhamento e reabilitação após se recuperarem de covid-19
Dados do Ministério da saúde atualizados na terça-feira, 26, relevam que, até o momento, mais de 90 mil pessoas que foram infectadas pelo novo coronavírus no Brasil já se recuperaram. Mas a dúvida é: como ficará a saúde dessas pessoas pós-covid-19? Haverá sequelas?
De acordo com Renata Castro, especialista em clínica médica e pós-doutora em cardiologia pela Universidade de Harvard, mesmo pessoas com quadros leves de covid-19 podem permanecer com sequelas. “Cansaço, falta de ar, dor de cabeça e dores musculares podem permanecer por semanas, mesmo após o vírus ser eliminado no organismo e a pessoa já apresentar sorologia que sugira imunidade”, diz.
Segundo a médica, acredita-se que a explicação para isso seja a intensa reação inflamatória causada pela infecção da covid-19 no corpo.
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Para a especialista, há uma preocupação com os efeitos cardíacos, mas ela observa que dores musculares e perda de massa muscular também têm acometido pessoas curadas, levando ao quadro de síndrome pós-covid-19.
“O que mais tem preocupado todos nós, médicos, em especial os cardiologistas, são as sequelas cardíacas. Infelizmente, mesmo pessoas sem história prévia de doença cardíaca, é possível apresentar alterações da função cardíaca, provavelmente por agressão direta do vírus ao coração”, afirma.
E como quase tudo relacionado ao coronavírus, há ainda várias dúvidas sobre essas sequelas. Não se sabe, por exemplo, se elas são reversíveis ou não. Porém, os médicos sabem que muitos desses pacientes precisarão de acompanhamento e reabilitação. “Por isso, é importante que as pessoas que tiveram covid-19 fiquem atentas a sintomas como palpitações, falta de ar, dor no peito e fadiga excessiva”, avalia a médica Renata Castro.
Abaixo, estão os três principais pontos de atenção observados em pacientes recuperados :
Sequelas da covid-19
Piora da função cardíaca
Apesar de o novo coronavírus ser um vírus respiratório, nos últimos meses, médicos aprenderam que ele pode acometer diversos órgãos e, muitas vezes, não poupar o coração. Todas as agressões conhecidas da covid-19 ao coração estão descritas em um posicionamento da Sociedade Europeia de Cardiologia, recém-publicado.
O novo coronavírus pode atacar diretamente o músculo cardíaco, causando uma condição chamada miocardite, que pode deixar sequelas no coração, como insuficiência cardíaca e maior propensão a arritmias. Além disso, a própria inflamação em reposta à doença parece poder desestabilizar placas de aterosclerose localizadas nas artérias coronarianas, causando infarto agudo do miocárdio.
Finalmente, o tromboembolismo pulmonar pode resultar em disfunção aguda do ventrículo direito, gerando insuficiência cardíaca direita. “Com tantas possíveis sequelas cardíacas pela covid-19, nós, cardiologistas, deveremos estar aptos a acompanhar os pacientes sobreviventes, oferecendo-lhes o melhor tratamento e reabilitação”, reforça a especialista.
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Função respiratória comprometida
Apesar de acometer diferentes órgãos, a covid-19 é causada por um vírus respiratório e um dos principais sintomas desta infecção é a falta de ar. O chamado “infiltrado em vidro fisco”, que vem sendo muito comentado na mídia, indica a secreção nos alvéolos pulmonares. É natural que com os alvéolos ocupados por secreção a pessoa se queixe de falta de ar. Além disso, diversos estudos vêm comprovando que a doença também gera trombose nos vasos pulmonares.
Acontece que a falta de ar pode permanecer mesmo após a infecção estar tratada. Apesar de não existirem estudos com grandes séries de casos em que a função pulmonar dos sobreviventes tenha sido avaliada, acredita-se que cerca de 30% dos pacientes permaneçam com queixa de falta de ar ou fadiga. Um estudo realizado com 72 idosos que sobreviveram à covid-19 revelou melhora da função respiratória e da qualidade de vida daqueles que realizaram um programa de reabilitação pulmonar por seis semanas.
Dores musculares e perda de massa muscular
Dores musculares, principalmente nas costas e panturrilhas, são frequentes em pacientes infectados pela covid-19. A intensidade destas dores pode variar de leve até muito forte, assemelhando-se àquela da dengue em cerca de 20% dos casos.
De acordo com a médica Renata Castro, alguns pacientes relatam que as dores musculares permanecem por semanas, impedindo o retorno à prática de atividade física. Além disso, também é observada a perda de massa muscular em praticamente todas as pessoas infectadas pela covid-19.
O que poderia explicar isso, além é claro da inatividade física durante a recuperação, é a reação inflamatória ao vírus e a agressão direta dele sobre os músculos. Nesses casos, posteriormente, o paciente irá precisar de acompanhamento nutricional e treinamento físico individualizado para recuperar a massa muscular e sua funcionalidade.