Médicos relatam pressão para ministrar cloroquina a pacientes com covid-19

Profissionais relataram ameaças de morte ou de demissão ao negar o uso de substância sem eficácia comprovada

Uma pesquisa realizada pela Associação Paulista de Medicina (APM) mostrou que 48,9% dos médicos receberam algum tipo de ameaça de pacientes ou de familiares para realizar tratamento com o uso de cloroquina, hidroxicloroquina ou outro medicamento sem comprovação científica no combate ao novo coronavírus.

Segundo o estudo, para 69,2% dos médicos, as notícias falsas são as principais causadoras desses desentendimentos. “Interferem negativamente, pois levam algumas pessoas a minimizar (ou negar) o problema e, assim, a não observar as recomendações de isolamento social e higiene, ou a não procurar os serviços de saúde”, relata a associação.

89% dos médicos creem que o Brasil enfrentará outra onda de covid-19
Créditos: Tomas Ragina/istock
89% dos médicos creem que o Brasil enfrentará outra onda de covid-19

Entre os relatos de violência, 37% presenciaram episódios de agressões a médicos ou a outros profissionais da saúde ou administrativos, 21,5% relataram truculência psicológica, 20,7% narraram agressão verbal e 11,5% contaram ataques nas redes sociais.


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Notícias falsas, remédios ineficazes

O maior estudo brasileiro já feito sobre o uso da hidroxicloroquina em pacientes com sintomas leves ou moderados de covid-19 atestou aquilo que a Organização Mundial de Saúde (OMS) e outros órgãos internacionais já haviam apontado: a droga não tem eficácia no combate contra o novo coronavírus.

A conclusão é de uma pesquisa feita pela coalizão liderada pelos hospitais Albert Einstein, HCor, Sírio-Libanês. Moinhos de Vento, Oswaldo Cruz e Beneficência Portuguesa, pelo Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e pela Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).

Subnotificações

A APM também questionou os médicos sobre a possibilidade de subnotificação nos dados divulgados pelo Ministério da Saúde. 45,4% relatam acreditar em subnotificação do governo e 21,5% têm a percepção de que o número de óbitos veiculados é inferior.

Créditos: Tomas Ragina/istock