Surto de hepatite: doença pode ser prevenida com vacina?

Forma aguda da doença continua se espalhando entre crianças de diferentes países

O surto de hepatite aguda de origem desconhecida já se espalhou para mais de 20 países, com centenas de casos confirmados ou suspeitos. A preocupação com a doença tem levado muitas pessoas a se questionarem se já não existe vacina para a doença.

Algumas formas de hepatite podem, sim, ser prevenidas com vacinas de rotina, como as que têm como alvo os vírus da hepatite A e B. Mas esses vírus foram descartados por exame laboratoriais nos casos do atual surto, assim como os outros vírus típicos que podem causar a doença: C, D e E.

Hepatite A e B podem ser prevenidas com vacina
Créditos: simarik/istock
Hepatite A e B podem ser prevenidas com vacina

Justamente pelo fato dos vírus típicos da hepatite terem sido descartados de todos os casos até agora é que a doença é considerada misteriosa. A hipótese mais forte até o momento é ela esteja sendo causada por adenovírus do tipo 41.

Acontece que não há vacina disponível para  proteger contra esse adenovírus. Os Estados Unidos até aprovaram uma vacina de adenovírus contra dois subtipos: tipo 4 e tipo 7, mas ela é aprovada e recomendada apenas para militares com alto risco de infecção por adenovírus.

Hepatite é inflamação o fígado
Créditos: Rasi Bhadramani/istock
Hepatite é inflamação o fígado

O adenovírus 41 geralmente se espalha através de matéria fecal, o que torna fundamental a lavagem adequada das mãos, principalmente após as trocas de fraldas e ida ao banheiro.

Surto segue em investigação

Nesta semana, um estudo apontou uma possível ligação entre a covid-19 e os casos de hepatite em crianças.

Os pesquisadores do Imperial College de Londres, no Reino Unido, e do Centro Médico Cedars Sinai, nos Estados Unidos, sugerem que os casos recentes foram provavelmente o resultado de uma infecção por coronavírus, seguida de uma infecção por adenovírus.

Segundo eles, o SARS-COV-2 (coronavírus) forma reservatórios que persistem no trato gastrointestinal mesmo após a infecção e podem levar à liberação repetida de proteínas virais que ativam células imunes. Então, quando infectadas pelo adenovírus, as crianças apresentam anormalidades imunológicas, como uma resposta inflamatória exagerada, resultando em inflamação no fígado.

Essa ativação exagerada de células imunes é apontada também como causa de síndrome inflamatória multissistêmica observada em crianças com covid-19, no início da pandemia.

Essa síndrome inflamatória desperta preocupações porque pode causar inflamação em vários órgãos, incluindo coração, pulmões, rins, cérebro, pele, olhos, estômago e fígado, e pode até levar à falência de múltiplos órgãos em casos graves, o que pode causar a morte de crianças.