As fobias que teremos que tratar no pós-pandemia
A ameaça invisível do vírus pode nos levar a tendências obsessivas ou fóbicas durante a pandemia e durarem por um longo tempo após o fim do período
Historicamente, epidemias, pandemias e outras grandes catástrofes têm o poder de propagar medo e de mudar comportamentos. Naturalmente lógica e sem surpresa, quanto maior a escala de um evento estressante, maior o impacto e a magnitude de suas sequelas. Em se falando da atual pandemia do novo coronavírus algumas dessas sequelas já esperadas na esfera mental no pós-pandemia são as fobias. É quando o medo ganha proporções exageradas, quase fantasiosas.
Pelo menos três fobias devem sofrer uma escalada durante a pandemia e podem durar anos, de acordo com o psiquiatra Luiz Vicente Figueira de Mello, do Hospital das Clínicas da FMUSP. Ele cita a fobia de doença (contágio), o transtorno de pânico e o transtorno obsessivo compulsivo (TOC).
“Eu diria que são duas fobias importantes: a fobia de contágio, que é o medo de pegar a doença e morrer, e o transtorno de pânico. Eu tenho alguns pacientes, que mesmo medicados, vieram a ter algumas crises de ansiedade e pânico nesse momento”, relata o especialista, que também é supervisor do Programa de Transtornos de Ansiedade do IPq – Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.
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Já o TOC é conhecido pelas famosas manias: de lavar as mãos, de checar as coisas. Pessoas desse grupo sofrem um medo gigante de contaminação, e para evitá-la criam uma série de rituais preventivos. “Geralmente, as pessoas já têm [essas fobias], mas nessas situações aumentam muito, sobrepõem às circunstâncias”, explica o médico.
Pandemia pode ser desencadeante
Pessoas que anteriormente já tinham uma predisposição biológica ou psicológica estão mais suscetíveis a desenvolver esses transtornos durante a pandemia, porém, a situação de estresse crônico em que vivemos não exime ninguém de sair mentalmente ileso dela.
De acordo com o especialista do Hospital das Clínicas, existem pessoas que são mais vulneráveis que outras, mas que não conhecem essa vulnerabilidade, pois nunca foram expostas a circunstâncias que despertassem isso nelas anteriormente. “Tem pessoas que têm fobia de voar, mas nunca precisaram voar e, se de repente, ela é escalada para fazer um trabalho onde ela é obrigada a pegar um voo, é aí que aparece a fobia”, explica o médico.
Segundo ele, essa fragilidade emocional é comum aparecer em situações em que há um risco grande de doença ou de morte.
Por outro lado, aqueles que sofrem de fobia social podem estar num contrafluxo mental. É que pessoas com esse distúrbio se sentem mais confortáveis quando ficam isoladas e não precisam se expor. “A fóbica social fica até mais feliz, pois não terá o desprazer ou medo de enfrentar – para ela é enfrentar – uma festa de aniversário de um amigo, onde tem várias pessoas”, explica o médico.
Isso, no entanto, não quer dizer que esse grupo será poupado dos efeitos mentais da pandemia, já que uma das possíveis consequências do isolamento social – quando prolongado – é um quadro de solidão e tristeza, que pode desembocar em depressão.
Por isso, os especialistas recomendam manter viva a rede de contatos com amigos e familiares, via telefone, WhatsApp ou videochamadas durante o período em que durarem as recomendações de distanciamento físico. Falar sobre os medos com os outros ajuda a diminuir o estresse, além de impedir que as pessoas se tranquem em suas mentes e agravem suas condições.
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Duração das sequelas mentais
Por quanto tempo o abalo mental será sentido não é possível dizer ao certo, pois varia de pessoa para pessoa. O psiquiatra da USP acredita que por pelo menos seis meses após a pandemia ser controlada as pessoas ainda estarão muito limitadas emocionalmente.
“Algumas conseguirão vencer isso com mais facilidade. Porém, em quem tem uma biologia mais frágil, isso pode durar a vida toda e exigir tratamento com psicoterapia ou até remédios”, diz.
Quando é a hora de buscar ajuda?
É normal preocupar-se durante o período de uma pandemia, e a maioria das pessoas consegue lidar sozinhas com isso, mas outras experimentam desequilíbrios mentais e emocionais mais prolongados, difíceis de segurar sem auxílio de outras.
Sofrer silenciosamente nunca é a melhor alternativa, e não é necessário esperar que os medos fiquem fora de controle para buscar ajuda. Pelo contrário, de acordo com os profissionais de saúde mental, o quanto antes tratar as emoções, melhor.
A psicoterapia comportamental cognitiva é um tipo de terapia muito útil nesses casos, pois ajuda a pessoa a se expor aos medos que ela tem. “A partir da hora que ela vai se expondo aos medos de forma repetitiva, ela vai diminuindo os pensamentos chamados pensamentos persistentes, de medo”, explica Figueira de Mello.
Durante a quarentena, a terapia online é uma saída. E não pense que ela é diferente da presencial. O acolhimento feito pelo terapeuta é o mesmo, nada muda.
Para quem não pode pagar pelas sessões, mas tem questões emocionais para tratar, há inúmeros grupos de psicólogos e psicanalistas oferecendo ajuda emocional para que as pessoas passem por esse período de maneira mais equilibrada.
Veja na matéria abaixo alguns dos serviços: