Surto de hepatite no mundo: quais teorias estão por trás?
Especialistas em saúde de vários países tentam desvendar o que está provocando a onda de inflamação no fígado de crianças saudáveis
O surto de hepatite de origem desconhecida em crianças começou no Reino Unido, se espalhando na sequência para outros países.
De acordo com o último balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1º de maio, pelo menos 228 casos já tinham sido confirmados em 20 países. Outros 50 estavam em investigação.
A hepatite é uma inflamação do fígado que geralmente é causada por uma infecção viral ou dano hepático. Alguns casos se resolvem sozinhos, mas outros podem ser mortal, sendo necessário transplantes de fígado para sobreviver.
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Os sintomas comuns influem fadiga, perda de apetite, náuseas, vômitos, dor abdominal, urina escura, fezes claras e dores nas articulações.
Outro sinal importante da doença é a icterícia – quando a pele e o branco dos olhos ficam amarelos.
Por que os especialistas estão preocupados?
A hepatite geralmente é rara em crianças, e os especialistas já identificaram mais casos no surto atual do que normalmente esperariam em um ano.
O que intriga é que nenhum caso até agora deu positivo para os vírus típicos da hepatite A, B, C, D e E, que geralmente causam a doença.
Os casos são de “origem desconhecida” e também graves, segundo a Organização Mundial da Saúde. Há relatos de algumas mortes de crianças relacionadas à doença e pelo menos 18 transplantes de fígado.
Quais são as principais teorias?
A hipótese mais forte até agora é que os casos possam estar ligados ao adenovírus do tipo 41, comumente associado a resfriados, mas que também pode causar pneumonia, diarreia e conjuntivite.
Esse vírus, segundo a OMS, foi detectado em pelo menos 74 crianças com a doença.
Embora esse adenovírus já tenha sido associado à hepatite em crianças com sistema imunológico enfraquecido, ele não é conhecido por ser uma causa de hepatite em crianças saudáveis, o que vem acontecendo.
Mas alguma influência do coronavírus não foi descartada. Alguns especialistas sugerem que a combinação do adenovírus com infecção por covid pode estar desencadeando a doença.
As pesquisas estão em andamento e respostas sólidas para esse surto devem levar um tempo.
Veja outras teorias:
Imunidade enfraquecida
Especialistas britânicos encarregados de investigar a onda da doença acreditam que o ciclo de lockdown dos últimos anos por conta da covid pode ter desempenhado um papel importante.
Eles acreditam que as restrições podem ter enfraquecido a imunidade das crianças, porque as impediu de serem expostas a infecções comuns, deixando-as em maior risco de contrair vírus agora.
Isso significa que mesmo o adenovírus ‘normal’ pode estar causando os resultados graves, porque as crianças não estão respondendo a ele como faziam no passado.
Mutação de adenovírus
Outra ideia é a de que o adenovírus pode ter sofrido alguma mutação incomum e se tornado mais agressivo.
Isso significaria que poderia ser mais transmissível ou mais capaz de contornar a imunidade natural das crianças e provocar sintomas e condições como a inflamação no fígado, que até então não eram vistos.
Nova variante do coronavírus
As autoridades de saúde britânicas incluíram uma nova variante do SARS-CoV-2 em suas hipóteses a serem investigadas.
A covid causou inflamação do fígado em casos muito raros durante a pandemia, embora tenham ocorrido em todas as idades, e não isolados em crianças.
Fatores ambientais
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) informou que os fatores ambientais ainda estão sendo investigados como possíveis causas das doenças. Estes podem incluir poluição ou exposição a drogas ou toxinas específicas.
A OMS já destacou que os casos não têm relação com a vacina da covid-19 já que a maioria das crianças doentes não foi vacinada contra a doença.