Monkeypox: tudo o que se sabe sobre a varíola do macaco até agora
Infecção tem se espalhado de uma forma nunca antes registrada
O surto da varíola do macaco (monkeypox) deixou o mundo, ainda receoso com a pandemia da covid-19, em alerta. Apesar de a doença ser conhecida há décadas, ela permanecia, com raras exceções, restrita a uma região geográfica específica: África Central e Ocidental.
Agora, esse tipo de varíola tem circulado por diversas localidades e apresentando novos sintomas e características. Os casos já foram confirmados em pelo menos 78 países, sendo o maior surto da doença fora da África.
Monkeypox: o que se sabe sobre a varíola do macaco até agora
Histórico
Em 1958, o vírus que causa a monkeypox foi descoberto após dois surtos da doença em macacos de laboratório. O episódio deu origem ao nome, apesar desses animais não serem os responsáveis pela transmissão.
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O primeiro caso de varíola do macaco em humanos foi registrado em 1970, na República Democrática do Congo. Desde então, a doença tem se concentrado em países da África, embora a varíola tenha sido erradicada em 1980.
Além dessas regiões, casos isolados haviam sido identificados nos Estados Unidos, em Israel e no Reino Unido.
Em junho de 2021, o Reino Unido detectou duas pessoas com vírus da varíola do macaco. De acordo com autoridades de saúde daquele país, os pacientes eram da mesma família, moravam em North Wales e foram atendidos em um hospital na Inglaterra. Na ocasião, não foi revelado em que país a dupla esteve.
Pouco depois, as autoridades de Saúde dos Estados Unidos rastrearam mais de 200 pessoas, em 27 estados, em julho de 2021, por terem entrado em contato com um homem do Texas, que viajou de Lagos, na Nigéria, para Atlanta, nos EUA, e de lá para Dallas.
No dia 7 de maio deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que foi notificada sobre um outro caso de varíola do macaco no Reino Unido. O indivíduo esteve na Nigéria. Quatro dias depois, iniciou-se o rastreamento de pessoas que tiveram contato com o infectado.
A partir daí, o surto da varíola do macaco espalhou-se pela Europa, com dezenas de casos confirmados e suspeitos no Reino Unido, Espanha, Portugal. Em pouco tempo, Estados Unidos, Canadá e Brasil também confirmaram casos.
No Brasil, segundo o relatório da OMS, de 22 de julho a 7 de agosto, os diagnósticos da doença saltarem de 592 para 1.721. O país também registrou o maior aumento semanal de casos no mundo, de acordo com a OMS.
Neste mês, um estudo publicado na revista científica “The Lancet” relatou o caso de um cão que foi infectado pela varíola do macaco. A hipótese é de que cachorro tenha contraído a doença de seus tutores, que estavam contaminados e costumam de dormir com o animal.
Até agora, cinco mortes foram relatadas e cerca de 10% de todos os pacientes são internados no hospital para controlar a dor. Já foram reportados mais de 18 mil casos da doença, em 78 países diferentes pelo mundo. Mais de 70% dos casos relatados estão na União Europeia e 25% nas Américas.
Sintomas
A manifestação da doença, com dores musculares, de cabeça e calafrios, além de inchaço dos gânglios linfáticos, surgem entre 5 e 21 dias após a infecção.
De um a três dias depois da febre, surgem as erupções cutâneas, que podem parecer com espinhas ou bolhas, que caracteriza a monkeypox. As lesões costumam ser dolorosas e as pessoas sentem muita coceira.
Elas podem aparecer no rosto, dentro da boca e em outras partes do corpo, como mãos, pés, peito, genitais ou ânus.
Inicialmente, aparecem lesões planas, depois ficam levemente elevadas e se enchem de líquido amarelado, formam uma casca e caem. A varíola do macaco costuma perdurar de duas a quatro semanas.
Em meados de agosto, um alemão de 40 anos apresentou uma mancha avermelhada no nariz que evoluiu para uma necrose em três dias. O caso foi descrito como um dos mais impressionante de monkeypox.
No surto atual, essas lesões costumam aparecer nas áreas genital e anal, o que sugere que a transmissão por contato sexual.
De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, os sintomas da varíola do macaco podem incluir:
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- Febre;
- Dor de cabeça;
- Dor muscular;
- Dor nas costas;
- linfonodos inchados;
- Calafrios;
- Exaustão;
- Suor noturno;
- Sintomas gripais, como congestão e coriza;
- Inchaço na virilha;
- Erupções cutâneas.
As Fases
A doença por fases que podem ser dividas em períodos:
Fase 1: o período de invasão (entre 0-5 dias)
Nessa primeira fase, a pessoa infectada costuma apresentar febre, dor de cabeça intensa, linfadenopatia (inchaço dos gânglios linfáticos), dor nas costas, mialgia (dores musculares) e uma intensa falta de energia.
A linfadenopatia é uma característica distintiva da varíola dos macacos em comparação com outras doenças que inicialmente podem parecer semelhantes (varicela, sarampo, varíola).
Fase 2: a erupção cutânea (1-3 dias após a febre)
A erupção tende a ser mais concentrada na face e extremidades do que no tronco. De acordo com a OMS, as bolhas afetam a face em 95% dos casos e as palmas das mãos e plantas dos pés em 75% dos casos.
Também são afetadas as mucosas orais (em 70% dos casos), genitália (30%) e conjuntiva (20%), bem como a córnea.
Recém-nascidos, crianças, mulheres grávidas e pessoas com deficiências imunológicas podem estar em risco de sintomas mais graves e, em casos raros, de morte.
Transmissão
Até pouco tempo atrás, especialistas em infectologia sabiam que a transmissão acontecia quando alguém entrava em contato lesões, fluídos corporais, gotículas respiratórias de alguém infectado, mordida ou arranhão de um animal infectado, ingestão de carne de caça ou contato direto com roupas de cama ou roupas usadas por pessoas contaminadas.
Novos estudos, no entanto, mostram que a doença mudou.
No fim de junho de 2022, a diretora dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), Rochelle Walensky, disse, em comunicado à imprensa, que algumas manifestações da doença “são leves e às vezes apenas em áreas limitadas do corpo, o que difere das apresentações clássicas vistas em países endêmicos da África Ocidental e Central”.
Antes, essas lesões apareciam de forma espalhada pelo corpo e em grande quantidade, mas algumas pessoas diagnosticadas com varíola do macaco estão apresentando uma única mancha ou bolha.
Um estudo realizado na Espanha concluiu que o contato pele a pele durante relação sexual é a forma predominante de transmissão da doença no momento. Apesar de os casos sejam concentrados em homens, qualquer pessoa está sujeita a pegar o vírus se tiver contato com a doença.
A revista científica “New England Journal of Medicine” divulgou que 95% dos casos da doença foram transmitidos durante o sexo, segundo estudo realizado pela Queen Mary University of London.
Em agosto de 2022, pesquisadores franceses detectaram o vírus monkeypox em amostras coletadas como parte de exames de rotina de infecções sexualmente transmissíveis de homens sem sintomas. A descoberta foi publicadas na revista Annals of Internal Medicine.
Das 200 pessoas assintomáticas para varíola dos macacos, 13 amostras foram positivas para o vírus. Entre os que eram inicialmente assintomáticos, dois desenvolveram sintomas da doença mais tarde.
Outro artigo publicado na revista científica British Medical Journal (BMJ), analisou 197 pacientes e alertou para a possibilidade de transmissão entre pessoas sem sintomas. Segundo o estudo, 25% dos infectados relataram ter tido contato com uma pessoa que teve a doença confirmada.
Nos EUA, alguns pacientes relataram dor no ânus ou ao redor do ânus e do reto, sangramento retal, inflamação dolorosa do revestimento do reto ou a sensação de precisar evacuar, mesmo sem necessidade. Nenhum desses sintomas era comumente associado à varíola do macaco.
Cuidados
O guia da OMS orienta sobre o que fazer se a pessoa achar que tem sintomas e como proteger a si mesmo e aos outros. A ideia é de que o material possa ser usado por líderes comunitários e profissionais de saúde.
A organização orienta aqueles que têm sintomas ou tiveram contato próximo com alguém com varíola que entre em contato com um profissional de saúde para aconselhamento e, se possível, isole-se e evite contato próximo com outras pessoas, principalmente pele a pele, face a face ou contato sexual.
O guia também recomenda a higiene das mãos, objetos e superfícies que foram tocados regularmente e o uso de máscara se estiver em contato próximo com alguém com sintomas.